segunda-feira, 11 de outubro de 2021

pesquisa traça perfil do jovem brasileiro

 

Pesquisa traça uma radiografia do jovem brasileiro

Valores como solidariedade, tolerância e generosidade estão em baixa entre os entrevistados

Redação/Hourpress

O que pensa o jovem brasileiro sobre política, religião, família e outros temas do nosso dia a dia? Quais são seus maiores medos e preocupações? A Fundação SM, por meio do seu Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI), e em parceria com pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e da Universidade do Estado do Rio (UERJ) lançam, nesta sexta-feira (8) a "Pesquisa Juventudes no Brasil", um documento que analisa as percepções e realidades dos jovens brasileiros, com foco na participação sociopolítica, valores, autopercepção, perspectivas de futuro, cultura, religiosidade, migrações, diversidade, igualdade de gênero, além do impacto das tecnologias nas relações e nos hábitos de consumo.

Coordenada pelo Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI), a pesquisa é a seção brasileira de uma investigação mais ampla em nove países ibero-americanos. Além do Brasil, o estudo foi realizado em Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, México, Peru e República Dominicana. Foram entrevistados pessoalmente 1.740 jovens, entre 15 e 29 anos, residentes nas cinco regiões do Brasil.
Entre os resultados apontados, destaca-se o grau de importância da família, das condições de saúde e educação e o desprestígio com a política. De acordo com a pesquisa, 60% dos jovens não consideram as discussões políticas algo vultuoso no dia-a-dia. Também são no campo político os maiores índices de desconfiança nas instituições: 82% dos jovens ouvidos não confiam nos partidos políticos, Congresso Nacional (80%), governo (69%) e Presidência da República (63%). Para 73% dos entrevistados, é em casa, com a família, onde são ditas as coisas mais importantes.
Felicidade e lealdade

O estudo mostra também que a característica que mais identifica os jovens é a de serem "preocupados demais com sua imagem" (44%), seguida por "rebeldia" (42%). Valores como solidariedade, tolerância e generosidade estão em baixa entre os entrevistados, e quase um terço deles afirma viver focado unicamente no presente. A tristeza, depressão e ansiedade marcam o grupo de entrevistados, pois apenas um quarto (25%) acha que ser alegre ou feliz caracteriza a juventude. E somente 19% dos jovens ouvidos se consideram leais às amizades.

A mulher no mercado de trabalho

A pesquisa também abordou a diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Para 55%, os salários das mulheres são piores do que o dos homens e 50% acreditam que é mais difícil para as mulheres arranjar emprego. Sobre o crescimento profissional, 47% dos entrevistados consideram ser mais difícil para as mulheres obterem uma promoção e quase metade (48%) crê que a presença das mulheres em cargos de responsabilidade e de poder político é bastante rara. Quanto ao acesso à educação, 69% dos pesquisados acreditam que, nesse campo, há igualdade de condições entre homens e mulheres, e mais da metade (56%) acreditam que ambos os sexos têm as mesmas oportunidades de seguir estudando.

Educação

A "Pesquisa Juventudes no Brasil" também traçou o perfil da escolaridade dos jovens. Mais da metade dos entrevistados estão cursando o Ensino Médio, e 12,8% apontam como nível de escolaridade o ensino superior e de pós-graduação. É significativa a presença daqueles que indicam o Ensino Fundamental, correspondendo a mais de um terço da amostra (34,4%).

"Apenas trabalho" é a atividade mais frequente entre os homens (39%) do as mulheres (22%), e a proporção de mulheres que não estudam nem trabalham (19%) é mais que o dobro do percentual de homens (9%) na mesma condição. Nesse recorte, os mais pobres são maioria, diferentemente daqueles que só estudam, predominante somente entre os grupos socioeconômicos alto e médio. Os jovens entrevistados frequentam, majoritariamente, escolas de Educação Básica públicas. Entretanto, no ensino superior predomina a frequência em instituições privadas, que equivalem a 73% do total, sobre as de dependência pública, que correspondem a 27%.

Jovens conectados

A pesquisa apontou que 96% dos jovens brasileiros entrevistados declaram recorrer à internet para fins variados, como o uso de mídias sociais, aplicativos de músicas ou vídeos, troca de mensagens e buscas de informação. O telefone celular é o equipamento mais utilizado pela juventude do país para a conexão com a internet (94%), seguido de computadores (4%). TV e tablet alcançam, cada um, 1% dos usuários

O estudo também mostrou que os jovens dos grupos socioeconômicos mais altos acessam diariamente a rede, na ordem de 97%, enquanto 74% dos que se encontram em situação de pobreza o fazem.

Religiosidade

No conjunto dos entrevistados que se consideram religiosos, há mais mulheres do que homens. Dos 68,33% que responderam ter religião, 36,86% são mulheres e 31,47% são homens. Já entre os 30,67% que não se consideram religiosos, os homens são 16,28% e 14,29% mulheres. Os católicos só são maioria entre os jovens mais velhos, cedendo esse lugar para os evangélicos em todas as outras idades.

Medos

A segurança (ou a falta dela) também foi abordada pelo estudo. 49% dos entrevistados disseram sentir medo "quase o tempo todo" de ser assaltado no transporte ou no caminho para casa ou trabalho. Os outros medos destacados pelos jovens foram: da destruição do meio ambiente (47%), de não ter trabalho no futuro (40%), ser atingido por bala perdida (37%), ficar endividado (34%), sofrer violência sexual (29%) e perder o atual emprego (23%).

O que mais incomoda?

A corrupção aparece como o maior incômodo para 62% dos entrevistados. O quesito "racismo, machismo e outras formas de opressão" ficou em segundo lugar, com 57%; já "a desigualdade entre ricos e pobres" e "acesso e qualidade da saúde" receberam, cada, 54% das menções.

Elaborada no segundo semestre de 2019, a pesquisa retrata justamente o momento que antecede o início da pandemia provocada pela Covid-19, e pode ser considerada um marco na transição dos jovens brasileiros, trazendo à tona dados que já eram preocupantes e que foram intensificados com as restrições, tais como o fechamento das escolas, a falta de acessibilidade para acompanhar atividades remotas, o aumento do desemprego e os impactos na saúde mental.

"Essa pesquisa nos apresenta dados significativos que nos permite compreender as preocupações, os interesses, as motivações e as principais dificuldades que os jovens brasileiros enfrentam, para - a partir desse ponto de partida, baseado no cuidado e na empatia - podermos acompanhá-los, criando entornos e ambientes propícios para o pleno desenvolvimento dessa fase tão importante da vida", afirma Mariana Franco, gerente da Fundação SM.

Os autores e autoras da pesquisa são pesquisadores especializados em investigações sobre a juventude. Ainda, de acordo com Mariana Franco, a publicação foi concebida para servir como material de apoio e inspiração para instituições, educadores e todas as pessoas que atuam com processos educacionais e com o desenvolvimento integral dos jovens brasileiros.

Os jovens pesquisados são 51,5% do sexo feminino e 48,5% do sexo masculino. 40% se consideram brancos, 39% pardos, 17% pretos, 2% amarelos, 1% indígena e 1% não respondeu. Além disso, 78,4% disseram ser solteiros, 20,4% se declararam casados (formalmente ou não) e 1,2% é de separados ou viúvos. 67,5% declaram não ter filhos e, dos 32,5% que têm, um terço (10,9%) são mães ou pais solo.

A Pesquisa pode ser consultada na íntegra, no site do Observatório da Juventude na Ibero-América:

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