O jornalista José Paulo de Andrade foi uma das vítimas da covid-19 em 2020
No México, 17,7% afirmam que suas redações tiveram corte de 50% entre os profissionais
Redação/Hourpress
As mudanças sociais exigidas pelas medidas restritivas de convivência também mudaram a rotina de jornalistas e das redações em toda a América Latina. Em consequência disso, surgem novas maneiras de relacionamento entre empresas, porta-vozes, agências de relações públicas e as redações. De acordo com a nova pesquisa realizada pela agência de Relações Públicas LatAm Intersect PR, que atua em toda a região, mais da metade dos jornalistas latino-americanos (52%) conseguiu continuar trabalhando 'sem interrupção' durante a pandemia do COVID-19, enquanto 60% dizem que em suas redações ninguém foi despedido e 37% adaptaram com sucesso seus modelos de negócios às novas realidades comerciais.
O estudo também revela uma evolução na maneira pela qual os jornalistas estão produzindo e verificando conteúdo: 22% estão rastreando e recolhendo citações diretamente dos feeds de mídias sociais dos porta-vozes, enquanto uma proporção semelhante publica respostas e comentários enviados por suas fontes em tempo real. Quase metade (47%) está publicando entrevistas de vídeo ou áudio pré-gravadas enviadas por organizações que desejam contribuir com uma história e 51% estão usando aplicativos de bate-papo para obter e citar conteúdo de fontes.
A pesquisa ainda traz dados sobre o ânimo dos profissionais em relação às perspectivas futuras da profissão. 72% permanecem "otimistas" ou "muito otimistas" e a mudança de canais para publicação de seus trabalhos também é uma novidade - 71% dos jornalistas aumentaram sua presença nas mídias sociais dos veículos nos quais trabalham e quase metade (48%) estão utilizando suas próprias redes sociais para publicar e promover seus artigos e reportagens.
A pesquisa da LatAm Intersect foi realizada com 293 jornalistas (atualmente trabalhando), por questionário por e-mail, entre os dias 10 e 15 de julho, de um coletivo de leitores de mais de 170 milhões de todo o Brasil, México, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Costa Rica, e projetada para rastrear a resiliência e a evolução do setor durante este período de pandemia. Com o resultado obtido é possível mensurar alguns indicadores que se diferenciam entre os países.
De acordo com Claudia Daré, sócia-fundadora da LatAm Intersect PR, a pesquisa revela mudanças definitivas nas práticas de trabalho e nos modelos de negócios que as organizações que se envolvem com a mídia na região devem levar em consideração para desenvolver suas estratégias de comunicação.
“Desde o surgimento da COVID-19, 37% dos jornalistas entrevistados passaram a usar as plataformas de mídia social muito mais do que antes, enquanto uma proporção semelhante considera essas plataformas como sua 'principal fonte de contato' com os porta-vozes e as fontes das empresas. Tais mudanças alteram a dinâmica entre a mídia, o departamento de comunicações das empresas e seus porta-vozes. Esse uso das mídias sociais está facilitando um relacionamento mais direto entre jornalistas e fontes de informação. Isso não é só inevitável, mas positivo em termos de transparência e velocidade de resposta. No entanto, os departamentos de comunicação e suas agências precisam adaptar suas práticas tendo esse novo cenário de atuação”, afirmou Claudia.
Uma das principais transformações que a pesquisa retrata nesse período de reclusão e trabalho home office, é a maneira de contatar os porta vozes das empresas. Alguns países demonstram uma maior informalidade nesse sentido e uma migração mais acentuada para o uso das mídias sociais pessoais de suas fontes como principal forma de contato. Jornalistas do México (49,2%) são os que mais utilizam esse contato direto, seguido da Colômbia com 44,4%. Jornalistas do Brasil são os que menos utilizam as redes sociais com suas fontes, apenas 28,8% dos respondentes. E profissionais do Chile e Peru afirmam que usam essa forma de contato mais frequentemente do que antes - 43,5% e 41,7%, respectivamente.
Mas a pesquisa também revela áreas de preocupação e cautela. Para 50% dos entrevistados o atual modelo de negócios da imprensa em geral não é sustentável a longo prazo e consideram que fontes alternativas de receita precisam ser encontradas. Quase um quinto (19%) já demitiu entre 10% e 30% de sua equipe e um quarto (25%) está ciente de publicações que foram completamente fechadas como resultado do vírus. Entre os jornalistas brasileiros, 14,5% afirmam que suas redações sofreram cortes em torno de 20%. No México, 17,7% afirmam que suas redações tiveram corte de 50% entre os profissionais e no Chile, 13% informam que 30% dos funcionários foram despedidos.
Mais da metade (51%) dos jornalistas ainda permanece focada em matérias relacionadas a COVID-19 (contribuindo com até 70% do conteúdo), mas essa situação certamente deve mudar. No México, 21,3% afirmam que cerca de 90% das notícias de seus veículos de atuação estão focados em assuntos sobre a pandemia, seguido de 24% pelo Peru que dizem ter 80% das notícias comprometidas com assuntos relacionados ao coronavírus. No geral, os jornalistas, em toda a América Latina, concentram-se entre 50% e 90% no assunto.
Claudia explica que essas descobertas também fornecem uma visão valiosa de como as organizações que desejam se comunicar através da mídia podem se adaptar para apoiar o setor e comunicar suas mensagens com mais eficácia. “Agora, mais do que nunca, as organizações precisam pensar além do press release. Conteúdo rico, incluindo vídeos e áudios, em sua maioria em tempo real, e respostas específicas a assuntos do momento são algumas das técnicas que permitirão aos jornalistas gerar conteúdo de qualidade e distinção”, analisa.
Os principais requisitos elencados pelos jornalistas que participaram da pesquisa para prosperar pós pandemia incluem:
- 53% estão procurando conteúdo personalizado, relevantes e adaptados à sua publicação;
- 44% precisam de conteúdo 'genuinamente exclusivo';
- 44% estão em busca de uma visão ou um ângulo mais profundo sobre as notícias do dia;
- 41% gostariam idealmente de "respostas (quase) em tempo real aos assuntos do dia";
- 39% estão procurando mais conteúdo de vídeo para apoiar suas matérias;
- 24% exigem mais informações básicas para contextualizar as histórias.
“A sobrevivência e a prosperidade de uma mídia dinâmica e independente é essencial para empresas e organizações que desejam se comunicar. Hoje, os jornalistas procuram novas formas de conteúdo e colaboração para garantir o mesmo. Acreditamos que os comunicadores – in house e de agência – têm um papel vital a desempenhar nessa evolução”, acrescenta Claudia.
A última questão da pesquisa apresentada aos profissionais era uma pergunta aberta para que eles pudessem expressar com uma palavra como resumiriam seu país depois de passar pela pandemia. O Chile é o país que mais demonstra pessimismo com 81,8% de palavras negativas, seguido do Brasil com 76,7% e do México com 68,9%. Costa Rica e Peru são os mais otimistas com 60% e 52% palavras positivas, respectivamente.
Homens e mulheres demonstram quase o mesmo nível de pessimismo diante desse momento, com cerca de 60% cada grupo, e os homens, quando são otimistas (33,1%) estão ligeiramente acima mulheres otimistas (28,5%). São os jornalistas mais jovens, até 25 anos, que apresentam maior negativismo diante da pandemia – 81% deles se expressaram com palavras negativas.
As palavras que aparecem com mais frequencia na pesquisa são: caos, incerteza, crise, desigualdade, desastre, devastado, catástrofe entre outras mais positivas como resiliência, resistência, esperança, adaptação, oportunidades e sobrevivente.
“A pesquisa demonstra que os resultados são bastante consistentes entre os países, indicando o profundo impacto que a pandemia está exercendo em todas as mídias da região. Há também muita sincronicidade em todas as respostas, o que nos garante segurança sobre os indicadores desse impacto”, completa Claudia.
Para ter acesso a todos os dados da pesquisa, veja o link: https://bit.ly/2XnDLso
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