terça-feira, 5 de outubro de 2021

O drama dos sem-terra começa com a divisão das capitanias hereditárias

    Arquivo/Hourpress

Milhões de hectares de terras se transformaram em grandes plantações em diversas regiões do País

Imagine Minas Gerais, como capitania, região hoje com 853 municípios?

*Luís Alberto Alves

“O que começa errado vai terminar errado”, conforme diz o dito popular. Quando #Dom João III decidiu, irresponsavelmente, em 1534, dividir o território brasileiro, escolhendo pessoas simpáticas ao governo de #Portugal e entregar gigantescas glebas terras para que fossem administradas, por meio de carta de doação. Até a independência brasileira, todas as nossas terras pertencia ao rei de #Portugal.

Eram as #capitanias hereditárias, inicialmente 15. Imagine Minas Gerais, como capitania, região hoje com 853 municípios? Outro exemplo desta loucura é a #capitania do Grão-Pará, uma imensidão de terras para ser administrada. O problema é que 34 anos após a invasão do Brasil por #Pedro Álvares Cabral e Cia., lei sobre divisão de terras inexistia. O primeiro “abençoado” nesta entrega de presente, foi #Fernando de Noronha, que ganhou a ilha de São João ou de Quaresma.

Só para se ter ideia de como funciona a organização nestas terras, somente em 1938, que o nosso país foi dividido em cinco regiões (Norte, Sul, Centro Oeste, Leste). O órgão para municiar o Estado de diversas informações econômicas e sociais, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), saiu do papel em 1936!!!

Puxa-saco

Cada responsável por uma #capitania hereditária, promovido a coronel, mesmo sem ter usado qualquer tipo de arma de fogo ou pisado numa instituição militar, definia quem pegaria um pedaço de terra para chamá-la de sua.  Bastava ser apenas “puxa-saco” do governo português.

Foi assim que surgiu, por exemplo, a #capitania hereditária de São Bernardo da Borda do Campo. Pesquise nos cartórios de registro de imóveis do ABC quem são os donos de imensos terrenos existentes por ali. A partir de 1822, as capitanias são batizadas de Províncias, mas de 1500 até 1850, os primeiros #latifundiários ocuparam gigantescos pedaços de terra sem qualquer documentação. Grilagem imobiliária!!!

O #registro imobiliário, como conhecemos atualmente, apareceu por meio da Lei 601, de 18/09/1850 e regulamentada pelo Decreto 1.318, 30/01/1854. O registro do imóvel era meramente declaratório para diferenciar o domínio particular do domínio público.  Portanto, em quase 350 anos dono da terra era alguém que conseguisse invadir aquele espaço, como fizeram diversas vezes, os #bandeirantes ao percorrer ao Brasil a procura de ouro e índios para torná-los escravos.

Domínio completo

Como os senhores de engenho tinham muito dinheiro, por causa da exportação de #açúcar para a Europa, a maioria deles passou aos filhos o comando dessas terras, algumas delas do tamanho de uma cidade, como Ribeirão Preto, por exemplo, entre outras. Esses coronéis do sertão exerciam forte influência sobre a população, e claro tinham domínio completo em cima dos seus escravos. Dai que surgiu o hábito de chamar os poderosos do interior de #“coroné”.

Dinheiro e força das tropas de jagunços impunha o respeito por meio do terror. O aval da #coroa portuguesa dava a esse time de latifundiários o poder de um governador. Só a partir de 1808, com a chegada da família real portuguesa ao #Brasil, que vai aparecer o embrião de corporações policiais. Por causa do aumento da população e da criminalidade em outras províncias, além da capital federal. Antes o #Brasil não tinha polícia!

Neste cenário que os coronéis administradores das capitanias hereditárias escolhiam quem seria dono de um terreno, pequeno ou grande, como por exemplo, uma fazenda. Só para se ter ideia, o bairro de São Miguel Paulista, na Zona Leste de SP, era uma fazenda! Por causa desta bagunça, que milhões de hectares de terra continuam nas mãos de poucos e outros milhões de infelizes lutam para um dia ter um terreno, que possa chamar de seu. Quando ninguém sabe.

 *Luís Alberto Alves é jornalista e editor das Cajuísticas

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