O Norte venceu mantendo a integridade territorial dos Estados Unidos
FreepikO ódio da Guerra da Secessão fez muitos norte-americanos adotarem essa bandeira
Luis Alberto Alves/Hourpress
A vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por diferença mínima em relação ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL) serviu de estopim para explosão do ódio entre eleitores de ambos os partidos. Pela primeira vez, o Brasil vive o clima semelhante à Guerra da Secessão (1861-1865), quando o Norte dos Estados Unidos entrou no campo de batalha contra o Sul. Era a União (Norte) enfrentando os Confederados.
O Norte venceu mantendo a integridade territorial dos Estados Unidos, aboliu a escravidão (o Sul era contra), aprovação e ratificação das 13ª, 14ª e 15ª Emendas à Constituição norte americana. Essa guerra deixou 828 mil mortos do lado da União, 864 mil dos Confederados, além de 50 mil vítimas fatais de civis livres. No papel tudo ficou pacificado após o final do conflito armado.
Passados 157 anos ainda existe o clima de raiva entre pessoas do Sul e do Norte dos Estados Unidos.O filme "Mississippi em Chamas" (1988), do diretor Alan Parker, retrata de forma fictícia a investigação do desaparecimento de três ativistas do Direitos Civis feitas por dos dois Agentes do FBI, ambientado numa pequena cidade do Estado de Mississippi. Note bem que a trama ocorre no Sul, extremamente racista, por causa da decretação do fim da escravidão em 1865, deixando milhares de latifundiários na miséria.
Luther King
O outro filme "....E o vento levou" mostra a situação de uma família escravagista após o fim da Guerra da Secessão". A temática é romântica, porém com foco no mesmo assunto. O pastor da Igreja Batista de Atlanta, Martin Luther King, no final da década de 1950 e década de 1960, travou suas maiores batalhas de implantação dos Direitos Civis no Sul dos Estados Unidos. Ao lado dele, manifestantes foram presos e agredidos por cães e policiais comandados por chefes racistas, alguns membros da terrível Ku Klux Klan.
As eleições presidenciais deste ano no Brasil, deixou bem claro que o país ficou dividido. O Sul contra o Norte e vice-versa. Cada 13 Estados escolheram defender, por meio do voto, o candidato de sua preferência. Nem Brasília escapou, como Capital Federal. Sul, Centro-Oeste, Sudeste, e dois pequenos Estados do Norte escolheram o presidente Jair Bolsonaro (PL). Norte e Nordeste ficaram com o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva. Nem após quatro dias do encerramento deste pleito serenou os ânimos. Agressões a eleitores de ambos os lados continuam.
Tanto petistas quanto bolsonarista partiram para a violência. Nesta sexta-feira (3), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) , Luis Barroso, precisou sair de um restaurante, em Santa Catarina por causa dos xingamentos e palavras de ordem pejorativas proferidas por simpatizantes do candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL). O clima já estava quente em setembro. Diante de um clube, em São Gonçalo (RJ), um bolsonarista ao filmar petistas iniciou confusão que terminou com ele agredido com socos, além do celular roubado.
Ódio
A animosidade, infelizmente, está em alta, e segundo diversos psicanalistas e psicólogos não vai acabar tão rápido. Talvez nem acabe. O resultado destas eleições aflorou o que milhões de brasileiros carregavam adormecido dentro do coração: o ódio pelo próximo. A falta de paciência, mesmo em relação aos familiares! Até mesmo dentro das igrejas evangélicas, conhecidas por pregar o amor de Deus, ocorreu divisões entre fieis. Após a abertura das urnas, quem votou no petista Lula, é tratado como pária, alguém ingrato, não digno de ficar mais nestes locais.
Pai e mãe recusa a conviver com filhos que não votaram em Jair Bolsonaro. Irmãos trocam insultos e até brigam por causa da opção política adotada neste 30 de outubro. Noras brigam com a sogra e genros são ameaçados pelo pai da moça que eles escolheram para casar-se. Empresas demitem funcionários que votaram no petista Lula. Até crianças e adolescentes, estudantes de colégios de elite, passaram a trocar mensagens odiosas, até ameaças de mortes, nas redes sociais. Para se protegerem, alguns alunos estão evitando comparecer às aulas.
O que muitos escondiam veio à tona: o Brasil é igual ao Sul dos Estados Unidos, ou seja, bem racista e preconceituoso. Tem raiva, principalmente, de negros, pobres e nordestinos! Contaminados pelo nazismo e fascismo, classificam essa tríade pelo suposto atraso econômico do País. Com a vitória petista em vários Estados do Norte e Nordeste, tornou rotina os gritos de extremistas, pedindo que a população destas regiões não desçam para Sul e Sudeste quando sofrerem a ameaça da fome e sede. Infelizmente esse quadro não vai mudar. Precisamos ter discernimento para vivermos num Brasil que se tornou dividido.
Luís Alberto Alves, jornalista, editor do blogue Cajuísticas.
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