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Radiografia da Notícia
* Especialistas em distúrbios do sono alertam para uso excessivo demedicamentos para dormir, que, embora mais modernos e seguros, ainda
podem causar dependência e tolerância
* A principal preocupação dos médicos é o consumo indiscriminado desse
tipo de medicamento
* Entre os mais conhecidos atualmente estão o Zolpidem, a Zopiclona e a
Eszopiclona
Luís Alberto Alves/Hourpress
Nas últimas décadas, alguns medicamentos utilizados para dormir
evoluíram significativamente, proporcionando resultados mais precisos
e com menos danos colaterais. Além disso, atualmente, são considerados
mais seguros em termos de intensidade de seus efeitos, apesar de ainda
exigirem cautela.
A principal preocupação dos médicos é o consumo indiscriminado desse
tipo de medicamento, que pode levar à dependência química e reduzir a
eficácia no tratamento da insônia. Ou seja, trata-se de um problema
que já existia no passado e que, apesar dos avanços significativos da
indústria farmacêutica, persiste com essa nova geração de fármacos.
Entre os mais conhecidos atualmente estão o Zolpidem, a Zopiclona e a
Eszopiclona, designados como “Drogas Z” no meio médico, devido às suas
características semelhantes em termos de ação no organismo e dos
efeitos produzidos – conforme explicou o Dr. Nilson Maeda,
otorrinolaringologista e médico do sono do Hospital Paulista.
Décadas
“As Drogas Z têm um período de ação mais curto e são consideradas mais
seguras em comparação aos benzodiazepínicos, como o Clonazepam,
Diazepam e Alprazolam, que eram utilizados nas décadas passadas, mas
hoje não são mais recomendados para o tratamento da insônia. Isso se
deve ao maior potencial dos benzodiazepínicos causarem dependência,
síndrome de abstinência, aumento do risco de queda nos idosos, dentre
outros efeitos indesejáveis. Ainda assim, as Drogas Z também podem
causar dependência e tolerância quando utilizadas por longos períodos
e em doses abusivas”, alertou o médico.
Consumo em alta
No caso específico do Zolpidem, atualmente, o mais popular entre as
Drogas Z, dados oficiais indicam um aumento significativo no consumo
do medicamento.
De acordo com informações do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Produtos Controlados, administrado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), entre 2018 e 2022, houve um crescimento de 161%
nas vendas do medicamento, que alcançou cerca de 22 milhões de caixas
vendidas em território nacional.
Como agem?
O processo de dependência, segundo o Dr. Nilson, ocorre porque os
efeitos desses fármacos tendem a diminuir com o tempo. “O cérebro se
ajusta à presença do princípio ativo, aumentando ou reduzindo a
sensibilidade dos receptores químicos. Por isso, com o uso contínuo,
esses medicamentos vão perdendo o efeito e começam a exigir doses
maiores, desencadeando a dependência”, explica o especialista,
acrescentando que o tempo recomendado para o consumo desse tipo de
medicamento é de até quatro semanas.
“Não recomendamos o tratamento da insônia somente com medicação
indutora do sono”, enfatizou.
Não é a primeira opção
Na mesma linha, o otorrinolaringologista e especialista em distúrbios
do sono, Dr. Lucas Padial, também do Hospital Paulista, explica que o
uso de remédios não deve ser a primeira opção para o tratamento da
insônia.
“Antes de mais nada, a origem desse distúrbio deve ser bem investigada
para direcionar um tratamento efetivo. O uso de medicações não é,
cientificamente, a primeira opção para o manejo da insônia. Elas podem
ser pontualmente utilizadas, especialmente em casos de insônia aguda,
ou seja, aquela que dura menos de três meses”, ressaltou.
Para pacientes que já fazem uso recorrente desse tipo de medicamento,
o médico explica que o desafio é reduzir o consumo gradualmente.
“Reduzir a medicação de forma gradual passa a ser o foco do
tratamento. Como, neurobiologicamente, o paciente ainda necessita
dessas medicações, o tratamento envolve diminuir a dose
progressivamente, enquanto, paralelamente, são aplicadas medidas de
higiene do sono, mudanças comportamentais e até o auxílio de outras
classes de medicamentos (que não provocam vício)”, afirma.
Dessa forma, conforme o Dr. Lucas, o desmame ocorre de maneira mais
saudável. “Se as medidas forem realizadas corretamente, especialmente
com a dedicação ativa do paciente, é possível abandonar o uso dessas
medicações e restabelecer uma relação saudável com o sono.”
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