segunda-feira, 3 de março de 2025

"Ainda estou aqui", Oscar merecido pelos Direitos Humanos

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Eunice e seu esposo Rubens Paiva

 Radiografia da Notícia

* O desaparecimento de alguém é pior do que a morte

* Eunice Paiva sentiu essa dor de 1971 até 2018, quando faleceu

* Fica a tristeza, o lamento e a infinita saudade

Luís  Alberto Alves/Hourpress

Nada mais justo o filme “Ainda estou aqui” ganhar o Oscar como Melhor Filme Estrangeiro na inesquecível noite desse domingo (2/3). É a coroação da luta de Eunice Paiva que testemunhou com os próprios olhos o marido ser retirado de dentro de sua casa para interrogatório na sede carioca da DOI/Codi e nunca mais voltar.

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O desaparecimento de alguém é pior do que a morte, pois ela permite, através do velório, a despedida final. É uma cerimônia em que a família está comunicando que aquela pessoa deixou de existir fisicamente. Para tanto, o cartório emite o atestado de óbito, com assinatura de médico, comprovando que ocorreu a morte daquele alguém.

Juridicamente também todos órgãos do governo federal, estadual e municipal são avisados de que aquela pessoa não faz mais parte dessa sociedade. Fica a tristeza, o lamento e a infinita saudade. Porém, todos os familiares e amigos estão a par da situação. O passar dos anos ameniza a sensação de perda e a vida prossegue, com os filhos casando-se, mudança de residência, de estado e até de país.

Esposo

Quando se trata de desaparecimento não há oportunidade de dar o último adeus. Tudo permanece vago. A mulher ou marido ou filhos olham para a porta ou até mesmo quintal aguardando o retorno daquele familiar que ninguém consegue encontrar. Eunice Paiva sentiu essa dor de 1971 até 2018, quando faleceu. Durante todos esses anos, no fundo do seu coração ela sentia que o seu esposo, o ex-deputado Rubens Paiva seria encontrado.

Mas os seus assassinos, que lhe retiraram a vida sob intenso sofrimento provocado pela tortura foram tão covardes que sumiram com o seu cadáver. Negaram a Eunice Paiva e seus filhos o direito de velar o corpo do esposo e pai Rubens Paiva. Por outro lado, percebo o quanto essa mulher foi guerreira. Formou-se em Direito para encontrar meios de não deixar esse crime cair no esquecimento sob o manto da anistia aprovada em 1979, que livrou da cadeia os assassinos do regime militar.

A conquista desse Oscar neste brilhante filme dirigido por Walter Salles desmascara a farsa e o terror da Ditadura de 1964, responsável por 21 terríveis anos de horror. Mostrou ao mundo o perigo que regimes totalitários podem provocar numa nação. Revelou que a democracia, mesmo com seus defeitos, é o melhor sistema de governo. Num reprise do meu passado jornalístico, lembrei-me de uma entrevista com Marcelo Rubens Paiva em 1986, a favor da libertação da presa política Lâmia Maruf Hassan em Israel, que saiu da cadeia no final da década de 1990. Ou seja, a família Paiva sempre esteve do lado do bem. Parabéns.

Luís Alberto Alves, jornalista, editor do blogue Cajuísticas, e autor dos livros: “O flagelo do desemprego” (2022), “Por que o meio ambiente é tão importante ao trabalhador” (2023) e “Internet: pesadelo de quem entrega mercadoria comprada online” (2024).

 

 

 

 

 

 

 

 

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