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Radiografia da Notícia
* Quando se descobre que, após olhar o celular, o cérebro humano leva 14 minutos para entrar em atenção plena de novo
* torna-se natural pensar medidas que estanquem este e outros sintomas até piores causados principalmente em crianças e adolescentes
* Dr. Paulo Telles explica o Movimento Desconecta na sala de aula para preservar a saúd
Redação/Hourpress
"Vivemos em uma era digital, em que a tecnologia faz parte do nosso dia a dia, mas infelizmente temos que assumir que fomos negligentes quanto ao letramento digital, nosso e de nossos filhos", refletiu o Dr. Paulo Telles, Pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ele lembra que, segundo dados do IBGE, 90% das crianças e adolescentes estão conectadas à internet, dos quais 95% usam celular como fonte principal de navegação.
O médico faz parte do Movimento Desconecta, que debate a regulamentação do uso de celulares nas escolas, visando barrar os efeitos negativos na formação das crianças e adolescentes."O uso adequado pela escola é importante e pode ajudar no processo educacional, mas, da forma que temos visto, certamente atrapalha o desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos nossos filhos", observou
Em sua visão, o assunto abarca a necessidade de muitas frentes conjuntas de ação, e o pontapé inicial é dado em casa. "Precisamos de muito mais que um simples alerta na capa dos aparelhos ou jogos, afinal já temos isso e seria só olhar a faixa etária indicativa de cada jogo ou app antes de baixar. Mas, a realidade é outra: os pais não checam e nem seguem as orientações. Letramento digital também é essencial para que pais possam iniciar toda esta proteção dentro de casa", enfatizou o Dr. Paulo.
Atuação conjunta com a escola
Na esfera da educação, dados da Unesco informam que um em cada quatro países já baniu o uso de celulares nas escolas, depois do relatório da própria Unesco mostrar uma relação negativa entre o uso excessivo de tecnologia e o desempenho dos alunos.
"Não podemos mais uma vez falhar neste processo, como fizemos ao liberar o uso para nossos filhos, é absolutamente primordial educar, orientar, informar e conduzir este processo com pais, alunos, e escola, estabelecendo limites, restrições e regras para garantir um ambiente saudável e propício ao desenvolvimento de nossos filhos", pontuou o pediatra.
Sociabilização e saúde mental em risco
Dr. Paulo reflete que a escola é um lugar de convívio, interação e aprendizado, onde crianças e adolescentes devem desenvolver habilidades sociais e emocionais fundamentais para a vida. Ele enxerga o celular como uma distração, um obstáculo para a concentração e o aprendizado. É nosso papel como pais e educadores orientar nossos filhos sobre o uso responsável da tecnologia", convidou o médico.
"Vamos incentivar mais momentos de contato humano, mais conversas olho no olho, mais interações reais. Vamos ajudar nossos filhos a enxergarem a importância de estabelecer conexões verdadeiras, de viver o momento presente e de se desenvolver plenamente, longe das telas.", receitou o Dr. Paulo.
Por fim, o especialista em pacientes infantis e adolescentes lembra a complexidade que é característica da própria vida e precisa ocupar seu espaço na vivência do ser humano desde pequeno. "A vida real tem um algoritmo muito mais complexo, com frustrações, emoções variadas, relações boas e ruins, quedas, acertos e erros, ganhos e perdas. Estar muito conectado atrapalha a forma que as crianças encaram o mundo real, deixando a realidade parecer dura, triste e muito abaixo das suas expectativas. Em um momento de mudanças emocionais e neurológicas como a infância e adolescência, é preciso presença para aprender a lidar com sentimentos que ainda não são capazes de suportar e administrar", enfatiza o pediatra.
Principais malefícios do uso precoce
Dependência digital | Ter um celular na mão pode reduzir em 25% a atenção do adolescente, mesmo que não esteja acessando o aparelho, ele fica com o que chamamos de Fear Of Missing Out (FOMO), ou medo de estar perdendo algo nas redes, nos chats, o que invariavelmente atrapalha a atenção na hora das aulas.
Problemas de saúde mental | Irritabilidade, ansiedade e depressão;
Transtornos do sono | Dificuldades para dormir, que afetam o rendimento escolar;
Problemas de alimentação | Sobrepeso, obesidade, anorexia e bulimia;
Sedentarismo | Vontade de ficar com o corpo parado e diminuição da prática de exercícios;
Bullying | Potenciação através do cyberbullying;
Riscos de abuso sexual | Exposição precoce a pornografia, sexting, sextorsão, abuso sexual e estupro virtual;
Transtornos posturais e músculo-esqueléticos | Devido às horas nos dispositivos, sem atenção à postura, em plena fase de construção a amadurecimento da musculatura e estrutura óssea;
Problemas visuais e auditivos | Miopia, síndrome visual do uso excessivo de tela e perda auditiva induzida pelo ruído excessivo dos fones de ouvido.
Transtornos da imagem corporal e autoestima | Automutilação e até suicídio;
Aumento do uso de substâncias | Nicotina, vaping, bebidas alcoólicas, maconha, anabolizantes e outras drogas;
Interferência no desempenho escolar | Piora do desempenho cognitivo e dificuldades de concentração.
PRINCIPAIS MEDIDAS PARA SOLUCIONAR O PROBLEMA:
Educação e orientação | Educar, orientar, informar e conduzir o processo de uso do celular com pais, alunos e escola;
Estabelecimento de limites | Determinar limites, restrições e regras para o uso de celulares;
Diálogo aberto | Manter um diálogo aberto e honesto sobre o uso do celular na escola;
Promoção de interações reais | Incentivar mais momentos de contato humano, conversas olho no olho e interações reais;
Regulação e controle | Regular adequadamente as redes sociais e controlar a venda de aparelhos e uso de aplicativos e jogos;
Avisos sobre riscos | Expor avisos obrigatórios sobre os potenciais riscos para a saúde mental dos adolescentes;
Proibição em escolas | Considerar a proibição do uso de celulares em escolas, como já feito em alguns países;
Apoio governamental | Cobrar ações dos governantes para proteger os jovens de assédio, abuso e exploração online;
Letramento digital | Promover o letramento digital para que pais possam iniciar a proteção dentro de casa;
Restrição de recursos prejudiciais | Limitar o uso de recursos como notificações push, reprodução automática e rolagem infinita;
Compartilhamento de dados | Obrigar as empresas a compartilhar dados sobre os efeitos à saúde com cientistas independentes e o público;
Auditorias de segurança | Permitir auditorias de segurança independentes nas plataformas.
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