Essa é a dura realidade que diversos micro empresários enfrentam na região
EBC
O crack ameaça transformar o centro de SP numa massa falida |
Luís Alberto Alves/Hourpress
Imagine você abrir uma loja, seja para vender autopeças,
eletrodomésticos, produtos eletrônicos, elétricos, roupas ou restaurante ou
bar. Investir dinheiro acumulado de férias, 13º salário, venda de carro e o
restante que estava na poupança para garantir o sustento de sua família. Depois
de algum tempo o seu negócio começa a enfrentar dificuldade. Você não consegue
mais pagar tributos, impostos, salários de funcionários, fornecedores, aluguel
etc.
Essa é a dura realidade que diversos micro empresários
enfrentam na região das ruas Santa Efigênia, Vitória, Aurora, General Osório,
Conselheiro Nébias, Triunfo, Alameda Glete, Frederico Stendel, Duque de Caxias,
Guaianazes, Gusmões e Rio Branco. Após a Polícia retirar os dependentes
químicos da Cracolândia, concentrados na rua Dino Bueno, Largo Coração de Jesus
e Alameda Nothmann se espalharam por ruas próximas.
A concentração de viciados em crack diante de lojas
comerciais acendeu o estopim do fogo do inferno. Em grande número, na busca de
dinheiro para comprar a droga assaltam consumidores, lojistas, empregados e
motoristas que ousam passar por essa região. Há casos de aglomerações com mais
de 200 pessoas impedindo a passagem de qualquer veículo.
Negócio
Não é mais novidade casos de arrastões nas esquinas das Avenidas
Rio Branco com Duque de Caxias. O carro ou ônibus é cercado, quebram os vidros,
assaltam motorista, passageiros e levam celulares, dinheiro e qualquer tipo de
objeto de valor. A situação piora a cada dia. Restaurantes sem clientes, lojas
que não conseguem mais vender mercadorias e dívidas se acumulando. O próximo
passo é falência do negócio.
Diante deste terror, inexplicavelmente o prefeito Ricardo
Nunes (MDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) apenas repetem chavões: “a
polícia continua patrulhando a região, retirando de circulação traficantes. A prefeitura
limpa as ruas, impedindo o acumulo de lixo, além de investir recursos por meio
de profissionais de saúde que atendem os dependentes químicos”.
Chegou a hora de o governo estadual e municipal aplicar
tratamento de choque. Não é mais possível tratar a questão da dependência
química como algo comum. É preciso investir pesado na internação dessas pessoas
em clínicas de recuperação, independente da vontade do viciado neste tipo de
droga. Após a etapa de desintoxicação, o governo precisa abrir portas de
emprego para quem conseguiu se livrar deste tormento.
Fumaça
Quanto aos traficantes, o serviço de inteligência da Polícia
precisa acelerar o processo de identificar qual o trajeto utilizado para a
droga chegar até essas regiões. Deve prender todos os envolvidos. Não apenas
tomar medidas paliativas, como prender ladrões de celulares ou de relógios. Mas
chegar aos tubarões. Aos magnatas do tráfico. Quem vende pedras de crack na Cracolândia
são os lambaris. Quando presos, logo são substituídos. É o mesmo de tentar enxugar
gelo ou ensacar fumaça.
Nesta empreitada é preciso envolver o ministério da Saúde em
medidas eficazes, incluindo o trabalho de assistentes sociais e mapeamento de
entidades sérias no tratamento da dependência química. O ministério do Trabalho
deve estar presente para encaminhar essas pessoas ao mercado, após sair desta
internação. O ministério das Cidades também pode colaborar por meio de política
pública para que essas pessoas tenham moradias, pagando baixas prestações. Do
contrário voltam às ruas e aos vícios.
É importante deixar de lado os discursos dos “Che Guevara” de
apartamentos. Pessoas que criticam qualquer ação do governo para retirar os
dependentes químicos das ruas. Alguns chegam até a defender a criação de
lugares para consumo das drogas como meio de acabar com a Cracolândia. É o
mesmo de passar pomada num tumor, em vez de retirá-lo do corpo. Caso não
tenhamos nenhuma medida séria para resolver esse problema, logo o Centro de São
Paulo será uma gigantesca Cracolândia com ruas cheias de lojas falidas. Qual é
o melhor para a cidade?
Luís Alberto Alves, jornalista, editor do blogue Cajuísticas.