capital humano é fundamental para um ambiente corporativo favorável à inovação tecnológica
Carlos Baptista
Canva
Transformação digital X Cultura organizacional
A transformação digital já não é novidade no universo corporativo. A maioria das organizações já entendeu a importância de aderir a essa constante evolução tecnológica, mas continua tendo dificuldades para conseguir se transformar. Quem ainda não tinha entendido essa necessidade, aprendeu com a pandemia que o mundo mudou.
No entanto, muitos líderes ainda procuram “receitas milagrosas” para promover essa transformação, e descobrem ao longo do caminho que se trata de um processo constante, e não absoluto em si. Para o especialista em transformação digital Carlos Baptista, apesar da urgência na transformação, nem todos iniciaram esse processo. “Mesmo que o mundo já esteja entrando em uma nova era de evolução tecnológica, com o advento da web 3.0, metaverso, blockchain, entre outras inovações, ainda há aqueles que resistem em ‘virar a chave’”, avalia ele.
Estudo recente da FSB Pesquisa em parceria com a consultoria F5 Business Growth, com mais de 400 empresários e CEOs de várias regiões do país e de vários setores econômicos, mapeou a maturidade em relação à Transformação Digital (TD) dentro das organizações. De acordo com o estudo, cerca de 70% dos executivos entrevistados entende que TD é um tema “altamente relevante”. No entanto, apenas 37% consideram que a sua organização está preparada e apta para executá-la.
Paralelamente, quatro em cada cinco organizações não tem ou tem pouco relacionamento com o ecossistema de startups, ou seja, não incentiva os conceitos de open innovation. “Outro dado relevante é que a grande maioria desses líderes estão apostando suas fichas em evolução tecnológica, investindo em temas como cloud, internet das coisas, inteligência artificial ou segurança cibernética”, acrescenta Baptista.
Mas será que esse caminho resolve a questão da transformação digital? Afinal, o que significa implementar TD numa organização?
Digitalização x Transformação digital
A aposta na tecnologia e na digitalização da organização colabora para o processo de transformação digital. Essa etapa é crucial. No entanto, a digitalização, por si só, não resolve a principal questão, que é a flexibilidade e capacidade de adaptação que os negócios precisam. Em alguns casos, tornar-se digital poderá até diminuir a flexibilidade, por causa do período de adaptação a novas tecnologias e necessidade de estabilização interna causada pela mudança.
Segundo Baptista, é oportuno simplificar a TD. E, para isso, torna-se necessário a implementação de ações que incentivem organicamente essa transformação. “Desse modo, é possível gerar uma onda que ganhe energia suficiente e ajude na adaptação, auxiliando a ultrapassar os desafios naturais. Um bom sinônimo deste conceito é como a água se adapta, mantendo a energia constante e chegando ao seu resultado final. Para que essa transformação seja mais orgânica, é preciso começar pela cultura organizacional e, principalmente, pelas pessoas”, resume ele.
Para auxiliar nesse sentido, Baptista listou aspectos importantes:
Cultura da criatividade e curiosidade
Esses são dois conceitos que nascem com o ser humano, basta observar como as crianças são naturalmente curiosas e criativas. No entanto, as escolas tradicionais e a própria sociedade levam-nos a deixar de lado estas habilidades. Mas esses são skills cruciais para que sejamos adaptáveis, e precisam ser incentivadas nas organizações. “Ao motivar essas características, a organização gera naturalmente maleabilidade e adaptação às novas necessidades. As áreas de inovação não devem se limitar a uma “garagem” ou a um único departamento. Todos, sem exceção, devem inovar procurando sempre novas ideias, parcerias, métodos etc”, explica o especialista.
Cultura do erro
Não é que as empresas devam banalizar o erro. No entanto, se precisamos que essas sejam mais “líquidas”, o líder não pode condenar o erro, porque isso gera medo nos profissionais e, consequentemente, paralisação e falta de protagonismo. A falha faz parte do processo criativo e de experimentação, que são uma base importante para a mudança orgânica. “Um profissional amedrontado é um colaborador apático e descontente, gerando improdutividade e desgaste dentro da organização. Paralelamente, o líder deverá incentivar que o erro seja analisado e transformado em ações de melhoria contínua”, alerta Baptista.
Cultura data driven
Para que a organização seja flexível, precisa estar sempre aberta a experimentar e avaliar as diversas hipóteses. No entanto, a experimentação precisa ser acompanhada da análise dos dados para medição dos resultados. Só assim torna-se possível avaliar os caminhos nos quais um negócio deverá apostar. “E esses dados e estratégias deverão ser compartilhados por toda a empresa, para que os profissionais possam se engajar e colaborar para o sucesso da mudança” recomenda o especialista.
Cultura gestão à vista
Um dos conceitos que a agilidade nos trouxe foi a gestão à vista. E em um contexto de transformação digital, este conceito torna-se ainda mais importante. Nas companhias mais tradicionais, as informações estavam restritas principalmente ao C-Level. “Para que a corporação seja flexível, é necessário que os profissionais estejam mais engajados e atentos às necessidades de adaptação. Para tal, é preciso que as equipes conheçam os resultados e os impactos de suas atividades, sugerindo e colaborando com a melhoria dos resultados”, ensina ele.
Na visão de Baptista, as organizações precisam manter essa cultura de transformação, e se tornar cada vez mais responsivas às necessidades do mercado. “É um processo longo e bastante dinâmico. Como tal, é preciso haver mais profissionais simultaneamente “remando para o mesmo lado”, mudando a perspectiva para uma transformação menos tecnológica e mais orgânica e, consequentemente, cada vez mais humana”, finaliza.
Carlos Baptista- É professor e coordenador no Núcleo de Seleção de Alunos do MBA da FIAP.
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