Em São Paulo, a cesta básica apresentou alta de 5,62%
Luiz Carlos Motta
A palavra carestia, muito usada nas décadas de 1970 e 1980, infelizmente está de volta ao nosso dia a dia. Os mais recentes levantamentos feitos pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostram que os preços dos alimentos continuam em lamentável alta, enquanto a inflação, por outro lado, vai reduzindo o poder de compra dos assalariados. Lembro-me de uma frase famosa do saudoso comentarista Joelmir Betting, que em situações como essa, há mais de 40 anos, dizia que os preços estavam subindo pelo elevador, enquanto os salários subiam pela escada.
Aumentos
Em São Paulo, a cesta básica apresentou alta de 5,62%, em abril, comparada a março. Foi a cesta mais cara entre as capitais pesquisadas e atingiu o valor de R$ 803,99. Em comparação com abril de 2021, representa uma elevação de 27,09%. Entre os 13 produtos que compõem a cesta básica, 12 tiveram aumento nos preços médios, na comparação que o Dieese fez com os preços de março. Vejam só que situação preocupante a escalada dos aumentos em 30 dias: batata (24,15%), tomate (16,09%), leite integral (9,21%), óleo de soja (8,29%), feijão carioquinha (7,43%), farinha de trigo (5,78%), arroz agulhinha (4,43%), café em pó (2,52%), pão francês (2,39%), carne bovina de primeira (2,23%), manteiga (1,04%), açúcar refinado (0,71%).
No acumulado dos últimos 12 meses, também foram registradas elevações em 12 dos 13 produtos da cesta básica, com índices que chegam a 125%, como no caso do tomate.
A situação fica mais grave quando comparamos o custo dos alimentos com o poder de compra de quem ganha um salário mínimo, atualmente em R$ 1.212,00, em São Paulo. Em abril, esse trabalhador dedicava 145 horas e 56 minutos para adquirir a cesta básica. Em março de 2022 o tempo de trabalho necessário foi de 138 horas e 10 minutos, e, em abril de 2021, de 126 horas e 31 minutos. Esse cenário piora, quando consideramos as altas no preço dos combustíveis e do gás de cozinha.
Constituição
A Constituição estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. Por isso o salário mínimo deveria ser, no mínimo, 5,3 vezes o valor que é pago hoje, ou seja, deveria ser de R$ 6.535,40, segundo calcula o próprio Dieese.
Ainda, segundo a mesma fonte, os trabalhadores brasileiros detêm hoje, um outro triste recorde: possuem o menor poder de compra do salário frente aos alimentos dos últimos 17 anos. O trabalhador gasta 70% da sua renda somente com a compra da cesta básica, sobrando muito pouco para os demais itens do orçamento.
Diante desse quadro, tenho defendido árdua e continuamente, no movimento sindical e no Congresso Nacional a urgente retomada da valorização do salário mínimo e a ampliação dos programas de distribuição de recursos emergenciais e de alimentos. Não temos mais tempo a perder. Não podemos permitir que a carestia continue condenando a população mais necessitada a um agravamento da sua já degradada condição humana.
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