segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Periferia sofre sem opções de lazer


Em mais de 20 anos, a polícia continua descendo a madeira nos adolescente e jovens que apenas procuram se divertir



Luís Alberto Alves/Hourpress

As nove mortes ocorridas durante um pancadão na favela de Paraisópolis, Zona Sul de SP, neste final de semana, revelam que a periferia ainda continua sofrendo sem opções de lazer. Os jovens só têm as mesas de bilhar, dominó, baralho nos botecos.

Para futebol, não existe mais os famosos campo de terra ou quadras esportivas. Em termos de música, os bairros afastados do Centro não há nada que possa servir para preencher o espaço do final de semana.

Na década de 80, na capital paulista, durante gestão da prefeita petista Luiza Erundina, a administração criou as ruas de lazer em cada região da cidade. Ali, a população tinha acesso a peças de teatro, oficinas de artes plásticas e vários gêneros musicais. Num deles surgiu o grupo Negritude Jr.

Os adolescentes e jovens das décadas de 60, 70 e 80 tinham os salões de baile, onde DJs locavam galpões ou ginásios esportivos de clube de futebol para os famosos bailes de final de semana.

Ali se ouviam os lançamentos da Black Music internacional, além de apresentações de ícones como Tim Maia, Jorge Benjor (que na época ainda assinava como Jorge Ben) e artistas internacionais como Zapp, Roy Ayers e Earth Wind & Fire.

Com a rapaziada da Furacão 2000,  no final da década de 90 que o Pancadão ganhou força e saiu para as ruas. Usando a batida americana do Miami House, o nome Funk de carona, logo os quarteirões das ruas eram ocupados pelos bailes que terminavam só no início do dia seguinte.

O começo era de canções inocentes, mas depois entraram em cena os “proibidões” de letras elogiando o crime organizado e versos recheados de palavrões. Não demorou para que essas festas virassem point para traficantes venderem drogas e até dominarem as festas.

De carona na fase de rebeldia, comum na adolescência, o som muito alto e xingamentos logo passaram a incomodar quem mora nessas regiões. Em vez de oferecer opções de lazer com montagem de palcos e valorização de artistas da região, o poder público resolveu optar pela repressão.

Em mais de 20 anos, a polícia continua descendo a madeira nos adolescente e jovens que apenas procuram se divertir. Nenhum governo, seja de direita ou esquerda apresentam solução. Apenas dão carta branca para a PM bater, humilhar ou até mesmo prender que se encontram dançando nestas festas.

O que aconteceu na favela de Paraisópolis já era uma tragédia anunciada. A desculpa esfarrapada de que ocorria perseguição, eu vejo com reserva. A repressão é a mesma aplicada pela PM nas manifestações estudantis e sindicais. Quando morrem muitas pessoas, as autoridades apresentam desculpas, que só ingênuos acreditam.

Nunca se esqueçam: em terra de cego, quem tem um olho enxerga tudo!!!




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