terça-feira, 30 de abril de 2024

Para fugir da crise, brasileiro se refugia no passado

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Radiografia da Notícia

* No ramo familiar, muitas famílias se mudaram para cidades do interior em diversas regiões do País, num processo semelhante ao da época do Arcadismo

*Hoje para se obter dinheiro fácil, via Pix, celulares são roubados em avenidas movimentadas ou nos congestionamentos

* Infelizmente no Brasil atual, o Judiciário, por incompetência do Legislativo, assumiu o posto de criador de leis

Luís Alberto Alves/Hourpress

O movimento Arcadismo, impactado pelo iluminismo no século XVIII, entre 1750 e 1780 na França, revela, vários séculos depois, que o homem tenta voltar ao passado. Uma das características deste movimento é cortar tudo que seja inútil, por meio do abandono do uso exagerado da figura de linguagem.

Ao trazermos para economia atual, a crise mundial, por causa da pandemia, retraiu o comportamento da ostentação. No ramo familiar, muitas famílias se mudaram para cidades do interior em diversas regiões do País, num processo semelhante ao da época do Arcadismo.

Elas colocam em prática o lema “Fugere Urbem”  (fugir da cidade), “Locus Amaenus” (para um lugar ameno), deixando para trás o “locus horrendus”, o “lugar horrível”, em que se tornaram as cidades de grande porte, em que a vida perdeu o valor.

Hoje para se obter dinheiro fácil, via Pix, celulares são roubados em avenidas movimentadas ou nos congestionamentos, reforçando parte do poema de Cláudio Manoel da Costa: “quem deixa o trato pastoril amado/pela ingrata vida civil correspondência/ ou desconhece o rosto da violência/ ou do retiro a paz não tem parecido”.

Poderes

Atualmente, em vez das doses do comprimido “Soma”, citado no livro “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley, disfarçadas de “BBB” ou “Fazendas”, inconscientemente as pessoas procuram, no plano individual, uma vida familiar simples e politicamente uma sociedade baseada na justiça, igualdade e soberania do povo. Algo descrito nas páginas do livro “O contrato social”, publicado pelo pensador francês Jean Jacques Rousseau há 262 anos.

Nesta mesma onda, naquela época, outro pensador francês, Montesquieu, escrevia em sua obra “O espírito das leis”, em que a única maneira de garantir a liberdade era a independência dos 3 poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário. Infelizmente no Brasil atual, o Judiciário, por incompetência do Legislativo, assumiu o posto de criador de leis, algumas delas nocivas à democracia.

Hoje, um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) se comporta como policial, promotor e juiz ao mesmo tempo. O Legislativo, em vez de pensar no bem-estar da população, quando se reúne para criar e aprovar leis, jamais pensa no futuro da nação.

Falsa

Exemplo disso ocorreu com a MP (Medida Provisória)  nº 1.045/21 onde era proposto a criação de emprego sem que o funcionário tivesse direito a FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), férias e 13º Salário.  Como se vê, cada vez mais o passado continua mandando no presente. O chamado século 21, era da tecnologia, da alta velocidade da informação, está recheado de atraso. É como se o mundo estivesse na época do Barroco, século XVI, com a população vivendo de falsa aparência e desconfiando de tudo.

Nos dias de hoje, duas pessoas sentadas numa moto, paradas no semáforo, são suspeitas de serem ladrões em qualquer movimento brusco, mesmo que uma delas vá pegar o celular no bolso da jaqueta, em vez de arma. Os nossos jovens, impactados pela pandemia e elevado desemprego (segundo o IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- no quarto trimestre de 2023, estavam sem trabalho 28% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos), não visualizam algo bom para o futuro.

Essa triste situação serve de munição para aumentar o pessimismo. Não é mais novidade, de que grande número de brasileiros busca auxílio religioso, outros recorrem a drogas ou à criminalidade como meio de obter paz e dinheiro. Atualmente, a sociedade brasileira é cética, pois convive num mundo repleto de engano, exatamente como na época do Barraco.

Presos

De acordo com dados do ministério da Justiça, de dezembro de 2022 a junho/2023, o número de presos no Brasil subiu de 826,8 mil para 839,7 mil. Essa quantidade é quase equivalente a uma cidade do porte de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, com 896.744 habitantes. A maior parte dos presos é negra (68,2%), com idade entre 18 e 29 anos, segundo dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Um dos sermões do Padre Vieira (1608/1697) “Sermão de Santo Antônio aos Peixes” ele já recriminava a corrupção do então Brasil Colônia, na época com menos de 200 anos de existência. Num dos versos ele diz: “...o efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta, como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?.....”

Como se vê, parte da nossa sociedade é saudosista. Relembra o passado de baixos índices de violência. Na periferia era possível andar de noite, sem correr o risco de morrer assassinado pela PM. Existia emprego. O nível de ensino, deste o então Primário (atual Ensino Fundamental) ao Colegial (Ensino Médio) era bom. Ninguém conseguia passar de ano sem ter estudado. Mesmo com equipamentos tecnológicos avançados, é grande o número de analfabetos funcionais.

Luís Alberto Alves, jornalista, editor do blogue Cajuísticas

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