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Militares colombianos com as crianças que permaneceram 40 dias perdidas na selva amazônica |
Sem menosprezar ninguém, posso afirmar convicto que conheço a essência da palavra milagre
Militares que as resgataram classificaram de algo heroico
a sobrevivência das quatro crianças
A intensidade do impacto entornou os eixos,
vergando como se fosse a letra “v”
Luís Alberto Alves/Hourpress
Céticos existiram sempre. Mas neste século 21 aumentou
o número de pessoas que não acreditam em mais nada. Apenas na força física,
como se este quesito fosse capaz de vencer batalhas, às vezes impossíveis para nós.
Na sexta-feira (9) passada, militares colombianos
conseguiram encontrar quatro crianças sobreviventes de acidente aéreo que
provocou a morte da mãe, Magdalena Mucutuy, com a queda da aeronave num trecho
da selva amazônica na Colômbia. Elas ficaram perdidas 40 dias.
Permanecer todo esse tempo dentro de densa mata,
alvo de diversos animais peçonhentos, como cobras, escorpiões, aranhas venenosas
e sem alimentos. Entre o quarteto de crianças, estava um bebê que ainda não
tinha 1 ano de vida.
Animais
Durante 40 dias, as quatro crianças, a maior com
13 anos, vagaram pelo “deserto verde” de árvores altas, que dificultam a
entrada dos raios do sol. A sede era saciada quando encontravam lagos ou
igarapés. Frutas serviram de alimento para combater a fome.
Militares que as resgataram classificaram de algo heroico
a sobrevivência das quatro crianças, em um ambiente hostil. Porém, nas mesas dos
botecos de vários países, os filósofos de plantão, consideraram algo comum.
Zombaram da palavra milagre.
Desconhecem que animais selvagens ignoram a
palavra solidariedade. Quando encontram humanos dentro do seu território,
partem para o ataque para preservar a sobrevivência Não importa a idade. Pela
providência divina isto não ocorreu. Entraram para história da luta pela vida.
Arquivo pessoal
Pneu estourado que provocou acidente com carro na Via Dutra em 2004 |
Em junho de 2004 senti na pele e na prática o
significado da palavra milagre. Durante viagem para São José dos Campos, próximo
à cidade de Santa Isabel, no quilômetro 188 da Via Dutra, pista SP/RJ, um pneu
traseiro do meu carro estourou. A 120 km/h, rapidamente o veículo capotou cinco
vezes até parar no acostamento.
A intensidade do impacto entornou os eixos,
vergando como se fosse a letra “v”. A gaveta do toca CD ficou pendurada no
painel. O volante amassou, quase se transformando numa peça em linha reta nas
minhas mãos. Os médicos que me atenderam na Santa Casa de Santa Isabel não
acreditaram que sobrevivi.
No diagnóstico deles, e segundo a Medicina, eu
teria duas chances: “morrer ou ficar tetraplégico”! Por causa do violento
acidente, a lógica era a minha coluna cervical ter quebrado, por causa do
capotamento. Para não deixar dúvida, permaneci internado 12 horas, naquele 10
de junho de 2004.
Parafuso
O acidente não deixou nenhuma sequela em mim. Nem
física ou psicológica. Passei pelo local várias vezes e encaro apenas como
fatalidade. No ano de 2005, 6 de agosto morre o meu pai, no dia 1º de setembro,
falece a minha mãe. Para a psicologia, alguém que perde os pais num prazo de 25
dias, entraria em parafuso. Permaneci bem. Encarei como algo comum.
Em 11 de março de 2007, após 15 anos de casamento,
passei pela dolorosa experiência do divórcio. Outro choque. Como não tivemos
filhos, num prazo de menos de dois anos, perdi toda a minha família. A loucura,
nem qualquer tipo de vício, não conseguiu me abraçar.
Sem menosprezar ninguém, posso afirmar convicto
que conheço a essência da palavra milagre. É quando chega o momento em que nenhuma
pessoa pode lhe ajudar. Nem mesmo o dinheiro tem condição de resolver aquela
situação. Só pedi para Deus me ajudar e segurar nas minhas mãos.
Passados 19
anos desse histórico de tragédias, ouso dizer que as crianças que ficaram perdidas
40 dias na selva amazônica conheceram a essência do que é milagre. Só quem
vivenciou essa situação é capaz de avaliar como é a sensação de passar por este
funil, onde a vida dribla a morte.
Luís Alberto Alves, jornalista, editor do blogue
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