Luís Alberto Alves
Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade reforça que os cuidados médicos vão além do procedimento clínico e que entender a fé do paciente é fundamental
Na Medicina de Família e Comunidade é utilizado um instrumento, que vale para qualquer especialidade chamada de “Método Clínico Centrado na Pessoa”, que reforça trazer o paciente sob cuidado para o centro das ações. Nos Estados Unidos chega a 85% a porcentagem de escolas médicas que contemplam a espiritualidade em seus currículos. No Brasil são poucas, entre 4 e 5%, que tem como parte obrigatória nos currículos, mas o interesse vem crescente, conforme o crescimento de discussões nos Congressos de Medicina de Família e Comunidade.
Amor
“Temos que tratar, cuidar de pessoas que eventualmente tenham doenças e não isoladamente de doenças, com alguns princípios que tem raízes em uma dimensão espiritual: compreensão da unicidade de cada paciente; concentrar-se no momento presente; considerar o paciente como a si mesmo; tomar a iniciativa no amar, no cuidar; gerar um ‘ambiente terapêutico’, fruto do amor vivido por todos da equipe de saúde”, explica Paulo Fontão, médico de família e comunidade, membro da Sociedade Brasileira de Medicina e Família (SBMFC).
Em 1997 a revista The Lancet lançou um número inteiro tratando do assunto e tinha como título principal: “Espiritualidade: fator esquecido na medicina” (Firshein J. Spirituality in medicine gains support in the USA. The lancet 1997; 349 May 3: 1300).
Cuidado
“Alguns médicos acreditam que devam ter essa ‘competência cultural’ – assim é chamado esse princípio de ações na Atenção Primária à Saúde, mas vale para todas as áreas, utilizando em benefício da pessoa também sua fé, sua rede de suporte de sua Igreja, comunidade de vivências, etc...Temos que fazer isso com uma enorme delicadeza, sem induzir, sem julgar, absolutamente sem tentar convencer ninguém e muito menos sem impor convicções, mas utilizando dessa competência para entender que significado tem para aquela pessoa a dor, o sofrimento, a morte, a doença, essa ou aquela outra terapêutica para que se estabeleça de fato um diálogo entre o cuidador e o cuidado e se estabeleça o que se pode chamar de Aliança Terapêutica, um projeto terapêutico com a participação ativa do paciente, o principal interessado”, explicou Fontão.
Lúdicas
Hoje, a maioria dos hospitais tem serviços de capelania e se busca fazer isso de forma ecumênica, multi-religiosa. Além disso a maioria dos bons serviços de saúde tem buscado implantar um programa interno de Humanização, que precede ou vai além de qualquer questão religiosa. O Brasil tem uma Política Nacional de Humanização desde 2003, como política para o Sistema Único de Saúde (SUS) e também para a Medicina Complementar. Em vários hospitais tem-se usado de práticas lúdicas, teatro, brincadeiras e espaços interativos.
Humor
Estar bem consigo mesmo e saber rir, aceitar, ter resiliência é fundamental para se ter mais saúde, mesmo no setor de cuidados paliativos e próximo da morte. Não dá para fazer de conta que a doença, a dor, sofrimento não existem e essa tomada de consciência e saber lidar com isso no outro é fundamental! Não é fácil lidar com o sofrimento e perdas. Trabalhar a questão da morte, desde o curso de medicina é essencial.
Fontão indica que médicos devem ajudar os pacientes a aceitarem a própria condição (tendo feito esse trabalho primeiro, interiormente) e assim serão portadores dessa “mensagem”, serão portadores de bom humor e sim, isso terá reflexos positivos no processo de cura.
Nunca se esqueça: em terra de cego, quem tem um olho enxerga tudo!!!
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