Infelizmente já visualizei este filme acontecer diversas vezes
EBC
Tragédia de Petrópolis completou um ano e nada mudou para quem não tem onde morar
Luís Alberto Alves/Hourpress
A tragédia provocada pelas chuvas no Litoral Norte revela o
quanto é gigantesca as distâncias sociais e econômicas no Brasil. Os
milionários fugindo de helicóptero do inferno de lama que virou aquela região.
Todos pagando R$ 30 mil para um lugar na aeronave e deixando para trás a ralé,
cuja família e amigos acabaram tragados pelas enchentes.
Nesta hora, não aparecem os responsáveis que autorizaram a
construção de condomínios de luxo no sopé da Serra. Claro, a corrupção está com
os seus dedos na liberação destes processos fraudulentos. A mesma triste
história ocorre na Serra da Cantareira, onde parte da Zona Norte de SP já invadiu
este local, acompanhado pela cidade de Mairiporã. As casas de luxo receberam
sinal verde das autoridades.
Infelizmente já visualizei este filme acontecer diversas
vezes. É só pesquisar os locais onde essas tragédias atingiram em cheio a
população pobre. Sempre em regiões que ninguém deveria morar. Mas por que se encontram
por ali? Quantos centenas de milhares não juntam pedaços de madeira de caixotes
e cobertura de lona para chamar de lar? O governo faz de conta que não enxerga.
Paraíso
O Jardim Pantanal na Zona Leste é exemplo disto. Área de várzea,
facilmente inundada em qualquer chuva torrencial. O resultado é o mesmo de
sempre: moradores perdendo o pouco que conseguiu juntar com o mínimo de
dinheiro que conseguem ganhar limpando as casas de bacanas e puxando carroças
na busca por produtos recicláveis. Sempre quando ocorre a tragédia, os governos
prometem o céu e o paraíso aos desabrigados.
Nos meus 36 anos de jornalismo e 62 anos de vida, já me
acostumei com esse drama. De tanta tragédia, nós da imprensa ficamos de couraça
dura. Enxergamos, porém não temos mais condições de chorar ou ficar triste.
Motivo: a série deste tipo de problema que sempre acontece e tem o pobre como
vítima. Ouvimos a conversa fiada de governantes, jogos de futebol beneficentes,
shows de artistas com alimentos como ingressos para amenizar o problema. Passou
o luto, ninguém resolve o problema até a próxima tragédia.
Alguém sabe como se encontram as vítimas dos deslizamentos
de terra em Petrópolis que deixaram vários mortos? E das famílias que perderam
a vida em Niterói quando um morro não suportou o volume de água da chuva e veio
abaixo, levando o que encontrou pela frente? E do grande número de desabrigados
na cidade paulista de Franco da Rocha, inclusive com vários mortos? O governo
paulista tomou alguma atitude para resolver esse drama? Agora você entende por
que jornalista não confia em autoridade política e em muita gente?
Luís Alberto Alves, jornalista, editor do blogue Cajuísticas