A máquina de dar choque, tenebrosamente conhecida como “pimentinha”, ao girar a sua manivela, liberava descarga elétrica
Luís Alberto Alves/Hourpress
O acusado de ser opositor ao Regime Militar de 1964, quando
caia na casa de horrores, na Rua Tomaz Carvalhal, nº 1.030, Paraíso, Zona Sul
de São Paulo, a poucos metros do Parque Ibirapuera, estava entrando no inferno.
Sem roupas e descalço era pendurado no pau de arara.
Tinha vários fios elétricos desencapados amarrados no pênis,
orelhas, língua, enfiados embaixo das unhas dos pés e mãos e logo começavam o
interrogatório. “Quero fulano de tal”, gritava o torturador, geralmente PM,
delegado ou investigador ou militar do Exército, Marinha ou Aeronáutica.
A máquina de dar choque, tenebrosamente conhecida como “pimentinha”,
ao girar a sua manivela, liberava descarga elétrica por alguns segundos, mas
suficiente para vítima balançar na barra de ferro em que estava pendurado
através do vão de suas pernas amarradas sob um cavalete ou duas mesas que
serviam de suporte. O organismo reagia liberando urina ou fezes.
Sofrimento
Às vezes a sessão de tortura durava horas, com o preso
desmaiando várias vezes. Para acelerar o sofrimento, os torturadores agrediam o
suspeito com uma pesada palmatória, nas articulações dos braços e pernas, e
também nas costas, na região dos pulmões e rins. Poucos conseguiam resistir
muito tempo, sem confessar algo. O sofrimento contribuía.
A cada descarga elétrica, a morte passeava na sala de
horrores onde funcionou o famigerado DOI/Codi (órgão de investigação da ditadura militar de
1964 que matou inúmeros opositores). Dessa equipe de troglodita pertenceu,
segundo o grupo de Direitos Humanos Tortura Nunca Mais, o delegado Edevarde
José, já falecido, que em 16 de janeiro de 1976, então com 45 anos, ao lado do
tenente da PM, Tamotu Nakao, que se mudou para Ribeirão Preto (SP), torturar e
matar o metalúrgico Manoel Fiel Filho.
Por causa da Lei de Anistia, aprovada no final da década de
1970, ele e outros acusados de tirar a vida de inúmeros opositores do Regime
Militar de 1964, escaparam da prisão. O que não ocorreu no Chile, Argentina e
Uruguai. Durante os seus últimos anos de vida, Edevarde viveu no apartamento
23, da Rua Brigadeiro Galvão, 247, Barra Funda, Zona Oeste. Talvez muitos
moradores nunca prestaram atenção naquele velhinho de 85 anos, em 2016, tomando
café na padaria da esquina.
Terroristas
Desconhecia que ele, na década de 1970, principalmente no
período entre 1973 e 1977, fazia parte do grupo de trogloditas usado pelo
ditador de plantão Ernesto Geisel, no comando do País, naquela época, para
através do sofrimento arrancar confissões dos opositores, denominados pelo
regime, como terroristas. Neste time estavam inclusos jornalistas, metalúrgicos,
estudantes universitários como Alexandre Vannuchi, políticos cassados,
sindicalistas.
Sem comer, beber e com sono (não permitiam os presos
dormirem), os suspeitos, segundo a Ditadura de 1964, eram torturados horas e
até dias. As mulheres eram abusadas sexualmente. Depoimentos de algumas delas,
relatam que alguns torturadores sentiam prazer em se masturbar e espalhar
espermatozoide sobre os locais machucados das vítimas. O coronel Carlos Alberto
Brilhante Ulstra, após ser emissário de satanás na vida dos torturados, aos
domingos assistia culto na igreja Metodista, onde era membro.
É triste ouvir do vice-presidente Mourão, em tom de ironia,
que os torturadores que fizeram o trabalho sujo da Ditadura, não podem ser
presos, porque agora são cinzas. Ele
sorriu ao saber da recente descoberta de aproximadamente mais de 10 mil áudios
de conversas de ministros do Supremo Tribunal Militar (STM) a respeito das
vítimas que passavam por aquele órgão, acusadas de crimes contra o regime
militar. Essa página precisa ser virada, com a punição desses assassinos.
Alguns estão vivos, já com cerca de 90 anos. Nazistas, com essa idade, quando
presos, são condenados. No Brasil,
precisa ocorrer o mesmo.
Luís Alberto Alves, jornalista e editor do blogue
Cajuísticas.
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