terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Como o retorno às aulas pode afetar os estudantes?

 


Muitas escolas terão sistema híbrido e será possível reencontrar os colegas

Redação/Hourpress

Após um ano atípico no ensino em 2020, a retomada das aulas em 2021 também será diferente. Em Goiânia e Aparecida de Goiânia, o início do ano letivo na rede pública será de maneira virtual, não há previsão de retorno presencial. Já na rede estadual de ensino, será adotado um sistema híbrido, com aulas remotas e presenciais, sendo que estas seguirão a resolução nacional, que permite até 30% de estudantes nas escolas. Os colégios particulares já haviam adotado o sistema híbrido desde o final do ano passado e devem seguir dessa maneira.

 Se já era comum o início de um ano letivo gerar muitas expectativas nos estudantes, agora elas aumentam, devido todas as mudanças causadas pela pandemia do novo coronavírus. A psicóloga e neuropsicóloga Júlia Penna de Siqueira (CRP 09/6657), que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, observa que os estudantes estão ansiosos neste momento. “O retorno às aulas presenciais pode trazer ansiedade tanto para o estudante que está doido para voltar para a escola quanto para o que não quer, depois de tanto tempo em que não tiveram esta experiência”, destaca.

 Para este momento, a profissional salienta a importância do apoio dos pais. “É importante que os pais conversem com os filhos antes da volta às aulas, perguntem como estão se sentindo, sobre o que está gerando aquele sentimento, o que podem fazer para ajudar e também, se for o caso, que preparem os filhos para voltar para uma escola diferente daquela antes da pandemia”, explica. Para quem não está desejando pela volta às aulas, diz a psicóloga, é importante lembrá-lo sobre as coisas que ele gostava da escola.

 "Alguns podem não estar tão desejosos por causa das vantagens que tiveram durante a pandemia, de às vezes não terem tido que acordar cedo todos os dias, não ter precisado se deslocar pra escola, ter tido mais tempo para atividades de lazer ou menos aulas semanais. Outros podem não estar querendo voltar às aulas presenciais por terem enfrentado dificuldades e distúrbios emocionais durante a pandemia, como transtornos relacionados à ansiedade, depressão, luto por uma pessoa querida, sobrecarga emocional, conflitos e problemas familiares e financeiros", aponta Júlia.

 Ela destaca que se o incômodo com o retorno persistir é importante buscar ajuda especializada, com um psicólogo ou psiquiatra. “Longos períodos de isolamento também podem gerar um fenômeno psicológico chamado de Síndrome da Cabana, que é o medo excessivo em relação a sair de casa e se relacionar com outras pessoas. Esse medo pode gerar sintomas importantes de ansiedade e estresse, que devem ser tratados para não prejudicar a vida acadêmica e social da pessoa, no caso, dos estudantes”, explica.

 Convivência é importante

A psicóloga destaca que o vínculo entre colegas de escolas é muito importante. “A convivência com pessoas da mesma faixa etária permite que a criança e o adolescente tenham com quem compartilhar os interesses, vivências e conflitos próprios da faixa etária. Para o adolescente é ainda mais importante o vínculo com os colegas, porque ele tende a se afastar um pouco da família e se aproximar dos amigos, o que faz com que os amigos tenham um papel mais importante em suas vidas”, explica Júlia Penna.

 Ela ressalta ainda como essas amizades influenciam a formação da personalidade da pessoa. “O vínculo com os colegas e amigos é que vai fazer a criança e o adolescente desenvolverem habilidades sócio-emocionais, como aprender a dividir e compartilhar, lidar com as diferenças, com as frustrações, ter empatia, se comunicar de forma mais assertiva e eficaz, ganhar e perder, ajudar o outro, lidar com conflitos, desenvolver a capacidade de enfrentar situações difíceis, respeitar os limites, entre outros”, explica a neuropsicóloga. 

 “Além disso, o ser humano é um ser social, ele busca e necessita de relações sociais, e quando esta área da vida não é satisfeita, pode prejudicar a sua saúde mental, influenciando não propriamente na sua personalidade, mas em seu modo de viver a vida, podendo viver de forma mais solitária, com menos atividades ou menos alegria e sentido de viver, por exemplo”, destaca Júlia Penna sobre a necessidade de interação.

 Sem contato

Júlia ressalta ainda as orientações que devem ser reforçadas com os estudantes neste retorno, visto que o contato que a maioria gosta, principalmente com abraços, não poderão ocorrer. “Com certeza será difícil para os alunos se conterem e mudarem seus hábitos em relação à forma de se relacionar com os colegas. É importante os pais conversarem sobre isso com os filhos antes da volta às aulas, para prepará-los e orientá-los sobre medidas para a proteção da saúde da família e falarem sobre como eles poderiam demonstrar afeto aos colegas sem se arriscarem. Por exemplo, dando um ‘soquinho’ na mão do colega e depois passar álcool em gel”, finalizou.

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