terça-feira, 3 de março de 2020

Você também é uma peça do sistema



Poucas pessoas conseguem captar as sutilezas do forte poder financeiro sobre a sociedade

Morus era contra a concentração de riquezas

Luís Alberto Alves/Hourpress

A correria do dia a dia na busca pelo sustento da família não deixa enxergamos que fazemos parte do sistema e obedecemos aos seus desejos. Algo sutil, porém repetimos sempre, mudando apenas as peças durante determinada época do ano.

Nas décadas de 60 e 70 eram comuns as passeatas e manifestações para implantação de políticas públicas para beneficiar setores marginalizados da sociedade. Algumas músicas viraram hinos, outras acabaram rotuladas como atrasadas.

Muitos séculos atrás, durante a revolução industrial, as duras condições que parte da população enfrentava, às vezes com jornadas de mais de 16 horas de trabalho, provocaram protesto e revolta exigindo mudanças, para que este tipo de tratamento chegasse ao fim.

Banqueiros

Em 1516, o humanista Thomas Morus, na Grã-Bretanha, escreve o livro “Utopia”, onde descreve o que seria, em sua concepção, o mundo ideal. No quesito economia, Morus enfatiza que a vida ideal deveria contemplar a divisão dos bens entre todos, evitando a concentração de riquezas nas mãos de um grupo pequeno.
Cantora Joan Baez

Quando o capitalismo começa avançar e se estabelecer como sistema econômico na maioria dos países nos séculos seguintes, o dinheiro começa a ficar restrito ao um grupo reduzido de pessoas. Neste caso, os banqueiros. Atualmente ninguém contesta o poder do sistema financeiro em todo o mundo.

As indústrias são importantes, mas o dinheiro passa a exercer grande influência sobre a sociedade. Impõem mudanças de costumes por meio da indústria cultural (música, teatro, cinema, televisão, rádio, livros e revistas), dos esportes, da política, economia, meio ambiente, saúde etc.

Amamentação

Poucas pessoas conseguem captar as sutilezas do forte poder financeiro sobre a sociedade. Às vezes disfarçadas de “bons gestos”, mas que escondem interesses monetários. No final da década de 30, a maioria das mulheres não usava leite em pó para amamentação.
Indústria batia forte na amamentação 

O capital atuante neste segmento da indústria da alimentação passou a usar os veículos de comunicação da época para informar que o leite em pó seria mais seguro, evitando a transmissão de doenças. Décadas depois, houve grande redução da amamentação por meio do leite materno.

Uma das regras impostas pelo sistema financeiro, que abastece sempre os políticos, é anexar territórios ricos em matéria-prima. É o que ocorreu com México no século 19, quando numa guerra contra os Estados Unidos perdeu os atuais Estados da Califórnia, Nevada, Texas e Utah, Novo México e grandes áreas dos Estados de Arizona, Colorado e Wyoming.

Tríplice Aliança

Na América do Sul, a ameaça de o Paraguai se transformar em grande potência levou o capital britânico a investir dinheiro na guerra que uniu Brasil, Argentina, Uruguai; formando a Tríplice Aliança.

 De 1864 a 1870, o Paraguai que poderia virar grande potência industrial, por causa da derrota mergulhou na miséria industrial, da qual não se libertou até hoje. Após a vitória norte-americana na Segunda Guerra Mundial, o sistema ganhou mais força.
Bob Dylan, autor de canções incendiárias


A criação da Companhia Siderúrgica Nacional, na década de 1940, para impulsionar a indústria brasileira e a criação da Petrobras em 1953, para explorar a extração de petróleo, além de investimentos na construção de linhas de trens, despertou a ira norte-americana.

Estradas

Daí ganha força a venda de um novo tipo de industrialização no Brasil e América do Sul. Grandes montadoras de automóveis e outros setores da economia dos Estados Unidos procuram abrir caminhos para empurrar os seus produtos ao consumidor latino americano. 

O sistema passa a financiar políticos contrários a aplicar dinheiro no transporte de carga através de trens. Passam a vender a ideia de que os caminhões seriam mais rentáveis. Mas no final da década de 1950, boa parte das rodovias carecia de estruturas para suportar este tipo de transporte.
Caminhão FNM não resistiu ao sistema


O caminhão FNM, desenvolvido no Brasil, conseguiu resistir no mercado até os anos de 1970, quando a marca foi adquirida pelo grupo Fiat, que o substituiu pela grife Iveco. A falta de dinheiro, provocada por projetos políticos que beneficiava o capital internacional, aos poucos matou uma indústria genuinamente nacional.

Time-Life

Antes no início da década de 1960, o sistema, por meio do grupo Time-Life, investiu muito dinheiro na então insignificante Rede Globo, que havia ganhado do presidente Juscelino Kubitschek, em 1957, a concessão para operar o canal 4 de televisão no Rio de Janeiro. Essa injeção financeira transformou a Globo numa grande potência.
Rede Globo no início da caminhada com o poder

Hoje, o sistema, por meio dos veículos comunicação trabalha na mente da maioria da população, por meio de filmes, novelas, peças de teatros, eventos esportivos, programas de auditórios a respeito de determinadas posturas que não incentive o questionamento de regras.
Dinheiro da Time Life para alavancar a Rede Globo

Repetem a tática do Império Romano de oferecer “pão e circo” às pessoas, quando percebem o crescimento de críticas ao status quo estabelecido pela elite financeira. Na década de 70, as Organizações Globo inventou o prêmio “Operário Padrão” ao funcionário que nunca criou problema trabalhista na empresa. Ou seja, o operário cordeiro. Sofria em silêncio todo tipo de exploração.

Radical

Seja na Europa, Estados Unidos ou nas Américas, o sistema financeiro usa a influência monetária para levantar ou derrubar lideranças políticas, artísticas, sindicais ou religiosas. No caso dos artistas, quem não se acomoda dentro da caixinha, logo é carimbado com o rótulo de “radical”.

Nos Estados Unidos, mesmo ainda em atividade, os cantores Joan Baez e Bob Dylan, são mal vistos pela indústria cultural daquele país, por causa da obra musical contrária aos interesses políticos norte-americanos em relação ao mundo. Ali, o sistema prefere despejar rios de dinheiro nas canções de artistas sem massa cinzenta.

O mesmo se aplica no campo político, com líderes como Stokely Carmichael, Martin Luther King, Angela Davis e Malcom X, que nas décadas de 1960 e 1970 se destacaram como ativistas do movimento negro nos Estados Unidos. Quem não morreu assassinado (King e Malcom X), acabou preso, caso de Angela Davis e Carmichael.

Sociedade
Malcom X


Outra tática usada pelo sistema é investir recursos, por meio da bancada política que se elege com o seu dinheiro em campanhas milionárias, para enfraquecer, através de projetos de leis, o currículo escolar. Batem na tecla de que não é importante obter cultura humanística, mas formação para o mercado de trabalho.

Após alguns anos o resultado deste tipo de postura é visível numa parcela de profissionais sem senso crítico. Estão nas empresas, porém sem capital criativo para transformar ideias em projetos economicamente bem sucedidos. É a geração copia e cola. Quando promovida, logo sai do barco, ao receber qualquer proposta do concorrente.
Martin Luther King

É neste segmento da população que o sistema continua investindo dinheiro nos veículos de comunicação para que o lixo cultural esteja sempre na ordem do dia. A estratégia é evitar que o pensamento crítico apareça.  Para isto fomenta discussões de temas, que parecem importantes, mas sem qualquer relevância para a sociedade.

Caixinha

Não é viável para o sistema, personalidades esportivas, artísticas, econômicas, políticas, religiosas e ambientalistas que despertem o raciocínio crítico. Lentamente o sistema impõe regras, que acabam aceitas pela maioria da sociedade.
Angela Davis

Exemplos: não é proibido mulheres carregarem caixões nos enterros, porém na maioria destas cerimônias, essa incumbência fica a cargo dos homens. A educação sexual das meninas é responsabilidade de alguém do sexo feminino. Na velhice, o idoso deve ser internado num asilo. Serviço militar só é prestado por jovens.

Os restos mortais de uma pessoa, após três anos, quando não reclamados pelos familiares, são incinerados e depositados na vala de falecidos sem nome. Sem direito a qualquer contestação judicial. O que existe num subsolo de qualquer propriedade privada pertence ao Estado. Ele pode se apossar dessa riqueza a qualquer tempo. Portanto, se você pensar fora da caixinha, é inimigo do sistema...
Stokely Carmichael

Nunca se esqueçam: em terra de cego, quem tem um olho enxerga tudo!!!
#social media

Nenhum comentário:

Postar um comentário