Rebelds (camiseta branca à esquerda) profetizou na canção a atual crise brasileira |
“Independente Brasil” infelizmente continua atual, como se tivesse saído das páginas do caderno no último final de semana
Luís
Alberto Alves/Hourpress
Há cerca de 12 anos fiz uma
entrevista musical com um jovem rapper no bairro de Cumbica, em Guarulhos,
Grande SP. O rapaz era camelô na época, tinha cerca de 25 anos. Ganhei de
presente o CD que havia gravado ao lado de seus amigos.
Em casa, ouvi atentamente todas
as faixas. E fiquei fascinado pelos versos cheios de profecias. Dias atrás
voltei a pensar nesta matéria escrita no já distante 2007. E o hit “Independente
Brasil” me chamou a atenção. Descrevia a história do nosso país em detalhes,
tudo criticamente sem cair no protesto vazio, recheado de clichês.
O solo choroso da guitarra e o refrão “quem dá
mais, quem dá mais, ao nosso país eu te pergunto, quem dá mais, vende-se um
país que quer a guerra e não a paz, quem dá mais” grudou no meu pensamento.
Rebelds, esse era o nome
artístico do rapper e o restante do grupo chamado Demais Comparsas. Se fosse
nos Estados Unidos, iria estourar nas paradas de sucesso das rádios de
programação de Black Music. A letra cita a invasão portuguesa em 1500, que nas
escolas os alunos aprendem como descobrimento pela esquadra do português Pedro
Álvares Cabral.
Passeia pela discriminação
racial, tão camuflada no Brasil, vendendo a imagem de que o Brasil é o local
onde brancos e negros convivem harmoniosamente. Grande mentira. Os negros são
os mais atacados pela Polícia e mortos. Traz à tona as empresas que raramente
promovem funcionários negros sem nenhuma barreira. Toca o dedo na ferida da
ditadura militar, dos desaparecidos, principalmente professores e estudantes.
O mais curioso é que essa
canção conseguiu prever o caos político e econômico que o Brasil iria mergulhar
na atual gestão Jair Bolsonaro. Aborda a privatização, mostrando que o dinheiro
da venda das empresas públicas nunca é usado para solucionar problemas graves
que castigam a população.
Não é esquecida a vergonha da
merenda escolar, aonde grande parte dos alunos vai ao colégio não para estudar,
mas para comer, como ocorre na maioria dos bairros da periferia deste Brasil.
Seus versos também miram a programação da Rede Globo, utilizada para alienar e servindo
aos interesses da elite que não cansa de explorar o país desde 1500. “Independente
Brasil” infelizmente continua atual, como se tivesse saído das páginas do
caderno no último final de semana.
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