Guilherme Oliveira, da Agência Senado
No fim do ano de 2010, o executivo Claudio Henrique dos Santos deixou o Brasil com a família rumo a Cingapura. Sua esposa havia recebido um convite para trabalhar no país asiático. Ele fechou sua recém-aberta loja de vinhos e previu que sua experiência prévia como assessor de comunicação em grandes empresas multinacionais abriria portas profissionais no novo lar.
A realidade foi outra, porém. Claudio não conseguiu obter um visto de trabalho para o novo país. Isso não prejudicou a vida da família: o salário da esposa era o suficiente para dar ao casal e à filha de 3 anos de idade uma condição confortável. No entanto, a situação mexeu com a cabeça de Claudio.
— Eu era um cara super machista. Não sabia, mas era. Passei o primeiro ano com dificuldades. Eu trabalhei a vida inteira, nunca dependi de ninguém, e de repente precisava pedir dinheiro para a minha mulher para comprar um sanduíche.
Sem trabalhar fora, ele se incumbiu da vida doméstica — apenas para passar o tempo, como ele próprio admite, e não por um senso de responsabilidade. Afinal, entendia que aquela não deveria a sua função.
— Pra mim era assim: o gato mia, o cachorro late e a mulher cuida da casa e dos filhos. Parecia uma coisa tão natural.
Pouco tempo depois, a esposa foi promovida e transferida para os Estados Unidos. Claudio conta que viu o sucesso da companheira, percebeu que a família estava levando uma boa vida e percebeu que não podia ser egoísta a ponto de se rebelar contra isso. Decidiu “sair do armário”: a partir dali, tornou-se “dono de casa” em tempo integral.
A transformação forçada abriu os olhos de Claudio, mas muitos homens brasileiros ainda encaram com normalidade a desigualdade entre os gêneros no compartilhamento das tarefas domésticas.
Em abril, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou números, extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que mostram a diferença da participação de homens e de mulheres nos encargos cotidianos. Apesar de um maior envolvimento deles em comparação com os dados colhidos no passado, ainda são elas que carregam a maior parte do fardo.
Dupla jornada
Um fator que contribui para alimentar essa desigualdade está associado, curiosamente, a uma mudança social positiva que se processou nas últimas décadas: a inserção resiliente da mulher no mercado de trabalho formal.
A participação feminina na população economicamente ativa avolumou-se consistentemente de meados do século passado até hoje, chegando mais perto de um equilíbrio com a parcela masculina desse grupo — a disparidade chegava, no fim dos anos 1970, a sete homens e três mulheres em cada grupo de 10 trabalhadores.
Também cresceu a taxa de atividade econômica dentro da população feminina, que mais do que dobrou no mesmo período — o que significa mais mulheres inseridas ou buscando se inserir no mercado remunerado. Apesar de o auge dessa tendência não ter atingido o mesmo patamar que o da população masculina, a evolução foi bem maior do que a registrada entre os homens.
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